Muitas vezes viajamos para respirar novos ares, deixar problemas para trás, começar novas vidas.
 
Entretanto, descobrimos algumas das vezes que muito do que pretendíamos deixar para trás veio conosco em nossa mala mental e emocional, nas memórias, nos hábitos, nos costumes. Talvez porque não possa sair a menos que decidamos enfrentar com coragem e sinceridade aquilo que carregamos a todo lado, porque talvez seja nada menos que parte de nós mesmos.
 
Na parashá da semana, Iaakov volta depois de vinte anos fora de casa. Volta com esposas, filhos e muitos bens, porém com os mesmos temores diante da ameaça de encontrar o irmão. As memórias do feito, do engano ao fingir ser o próprio irmão para roubar sua benção, e das mágoas, não o abandonaram nunca. Provavelmente os questionamentos sobre quais motivações dentro dele o levaram a semelhantes comportamentos no passado, tenham sido a voz mais forte na sua bagagem.
 
Finalmente, na noite prévia ao reencontro, ele luta com o anjo e se levanta mancando, mas com um novo nome. Ambos os detalhes simbolizando talvez a mudança de atitude interna e externa que lhe permitirá se unir com o irmão num abraço e um choro.
 
Talvez não possamos nem devamos deixar nada para trás. Tudo que vivemos será sempre parte de nós. Poderemos ressignificar, realocar, readministrar, mas nunca apagar. Talvez essa seja a garantia de que realmente nossa vida existe e cada minuto tem um significado, pois fica gravado para sempre em algum lugar de influência que deverá sempre ser assumido. Talvez cada minuto tenha um potencial esperando nossa significação como cada letra da Torá espera a interpretação do último dos alunos da história, ainda não nascido, segundo o talmud de Jerusalém.
 
 
Shabat Shalom.
Rabino Dr. Ruben Sternschein.