As palavras dessa parashá aparecem semanalmente, seja na sinagoga, seja nos lares judaicos, com as quais abençoamos nossos filhos (as meninas recebem outra bênção, similar).

 

Efráim e Menashé são os dois filhos de Yossêf que nasceram no Egito, antes dele se reencontrar com sua família. Na ocasião de seus nascimentos são nomeados. Menashé, o mais velho, recebe esse nome porque “Deus me fez esquecer do meu sofrimento e da casa de meu pai” (Gênesis 41:51); e o segundo filho, Efráim, recebe esse nome porque “Deus me fez frutificar na terra da minha aflição” (Gênesis 41:52). Em ambos os casos, Yossêf relembra seu sofrimento através dos filhos. Por que, então, são justamente eles relembrados para abençoarmos nossos filhos semana após semana? Não temos outros referenciais masculinos para relembrar (por exemplo, os patriarcas, como são as matriarcas no caso da bênção das meninas)?

 

Um pouco antes desta frase, Yaacóv coloca seus dois netos no mesmo nível de seus filhos. Temos pouco na tradição sobre a relação de netos e avós, e talvez essa pequena frase venha ensinar algo a mais do que a explicação tradicional de que são os primeiros irmãos que não brigaram.

 

O Talmud, no tratado de Kidushín 30a, traz, dentro da discussão sobre a responsabilidade dos pais de ensinar Torá a seus filhos (leia-se aqui Torá não só como as escrituras, mas educação em geral), a responsabilidade e o mérito de avós que ensinam seus netos. Os sábios se perguntam até onde vai a obrigação de um pai de ensinar Torá, e a resposta é que deveríamos ser como o sábio Zevulun ben Dan, que foi ensinado pelo seu avô. Os sábios reforçam essa noção dizendo que se um avô ensina Torá ao neto é como se ele a tivesse recebido diretamente do Monte Sinai, assim como dizem os versículos em Deuteronômio: “…fará com que seus filhos e netos fiquem sabendo do dia em que estivestes frente a Deus em Horev” (4:9-10).

 

Yaacóv, quando coloca a Menashé e Efráim como seus próprios filhos, está se responsabilizando por eles. Talvez essa tenha sido uma maneira de aliviar os anos em que esteve separado de Yossêf e não pôde ensinar tudo o que quis.

 

Semanalmente, quando pais abençoam seus filhos ­– lembrando essa relação particular entre netos e avô – reforçam a tradição milenar do povo judeu na qual não somos apenas responsáveis por nós, e nem só por nossos filhos, mas também por nossos netos, assim como nossos pais, avós e bisavós foram responsáveis por transmitir conhecimento, tradição e costumes.

 

Shabat Shalom.

Rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik