tazriametsora2017_ilustracaoEmbora admiremos a segurança e a firmeza como qualidades humanas desejáveis – especialmente no mundo corporativo, das finanças e do comércio, mas também no que diz respeito a médicos, advogados e políticos –, elas podem inibir outros bens.
 
A economia nos mostrou reiteradas vezes nos últimos anos que não existem certezas absolutas nem presságios perfeitos. Também os médicos em diversas ocasiões não conseguem explicar todos os detalhes de um fenômeno positivo ou negativo, de uma reação química, de uma prática. Os advogados, que advertem seus clientes sobre a relatividade da interpretação da lei, de suas capacidades, da leitura da realidade dos outros advogados e de juízes, bem como dos diversos lados do proceder e das intenções, são sempre os mais verdadeiros e os mais confiáveis.
 
A parashá da semana, repleta de detalhes rituais de purezas e impurezas, explica que diante de uma mancha evidenciada devia ser chamado o especialista, dizendo que, aparentemente, foi vista uma mancha que poderia indicar um tipo de impureza. Ainda que quem dissesse essa fórmula tivesse visto a mancha com certeza, com seus próprios olhos.
 
Por que seria importante criar incerteza ou deixar espaço para ela?
 
Os comentaristas clássicos ensinaram que a incerteza educa a humildade imprescindível para aprender e para aprimorar. Só quem sabe que não sabe pode aprender o que não sabe, pode ir atrás. Só quem se vê imperfeito pode se aperfeiçoar e perdoar os erros dos outros. Só quem acredita que nunca chegou ao topo tem possibilidade de avançar em direção a ele. Só quem se coloca como meta um topo maior cresce e progride constantemente.
 
Na próxima semana começaremos um novo curso de pensamento judaico, com o tema do agnosticismo na fé. Talvez a ela seja isso, a-gnosis, desconhecimento, e, portanto, a única forma verdadeiramente humana de lidar com a incompletude essencial de tudo que vivemos e somos.
 

Shabat Shalom.
Rabino Ruben Sternschein