ConversAção

“Um novo rei se levanta no Egito, o qual não conhecia Iossef” (Êxodo 1:8). Esse é o passuk (versículo) no qual a história muda. O final feliz da Saga de Iossef, com todos os filhos de Iaacóv vindo morar em boas terras no Egito, acaba com esse passuk.
 
Nosso povo sofreu em silêncio. Aceitou as dificuldades impostas pelo Faraó e continuou a crescer em número. Mesmo com o decreto que sentenciava os meninos recém-nascidos a serem jogados aos crocodilos do Nilo, sofreram em silêncio. E continuaram crescendo… mas nem todos calaram.
 
Uma mãe da tribo de Levi, ao ver que seu menino recém-nascido era bom, também não calou… escondeu o bebê por três meses e, quando não pode mais mantê-lo em segurança, preparou um cesto para boiar e o colocou com o menino nas águas do Nilo.
 
O nome desta mãe não é mencionado. Tampouco o nome da irmã do bebê, protagonista do discurso mais importante dessa história. Ao seguir o cesto com seu irmão e vê-lo ser resgatado pela filha do Faraó ela também não calou.
 
A Torá nos conta que ao abrir o cesto, a filha do Faraó “…viu um bebê, e o menino chorava, e se compadeceu dele e disse: dos bebês hebreus é ele” (Êxodo 2:7). Imediatamente a irmã, que depois saberemos se chamar Miriam, diz à filha do Faraó “… Eu irei e chamarei para você uma ama de leite entre as hebreias e ela amamentará o menino para você” (Êxodo 2:7).
 
A filha do Faraó se compadece do bebê que chora, mas o identifica como hebreu. Talvez aí ela teria ficado dividida entre cumprir o decreto real e jogar o menino aos crocodilos ou desobedecê-lo e cuidar do bebê ela mesma.
 
Miriam poderia ter ficado de longe, calada, apenas observando o rumo que a situação iria tomar. Mas ela não deixa espaço para dúvida e de forma quase imperativa oferece uma ama à princesa. Esta aceita de imediato e diz para a menina trazer a própria mãe do menino.
 
Miriam garante não só a sobrevivência daquele que será o grande redentor do povo, mas possibilita que ele cresça em casa, com sua mãe e entre seu povo… seus irmãos.
 
Mais para frente na narrativa, quando morre o rei do Egito, o povo começa a chorar e reclamar e então clama a Deus por ajuda. Nesse momento a Torá diz que Deus se lembra dos seus e do pacto com nossos patriarcas e matriarcas e “Desce à Terra para ajudar seu povo”.
 
Em ambas situações vemos o poder da palavra. Mas não da palavra falada à toa ou corriqueiramente, mas a palavra com intenção… palavra que leva a uma ação, seja interna ou externa, seja em quem fala ou em quem recebe o que foi dito.
 
Talvez se o povo não falasse, chorasse e rezasse, Deus não teria se lembrado… Talvez se Miriam não tivesse falado à Filha do Faraó, Moshé não teria redimido nosso povo…
 
A palavra quando dita com intenção pode impulsionar as ações e mudar a história de cada um, como Miriam fez com o irmão, e a história de uma nação, como Moshé fez com nosso povo.
 
Que possamos desenvolver sempre esta habilidade: de falar, de escutar, de se comunicar e se conectar por meio da palavra.
 
Falemos uns com os outros! Conectemo-nos uns aos outros por meio da comunicação! E que seja com intenção e nosso discurso leve sempre a ação!
 
Shabat Shalom!
Moré Dani Zekhry