Estamos iniciando o segundo livro da Torá: Shemót (Êxodo). O livro que terminamos de ler, Bereshít (Gênesis), além da criação do mundo, conta a história de uma família, a família dos patriarcas.

 

Em Shemót acontece algo diferente: a narrativa em torno de uma única família é abandonada e dá espaço à saga de toda uma nação. Não está mais no centro da história um único núcleo familiar, mas sim as dificuldades e conquistas de todo o povo de Israel.

 

Vaiacom melech chadásh al mitsráim asher lo iada et Iossêf. “E surgiu um novo rei sobre o Egito que não conheceu José”. Embora esta não seja a primeira frase do livro de Êxodo, é ela que resume a atmosfera de tudo o que está por vir.

 

Será que o “novo rei” não conhecia José e nunca soube na sua existência? É difícil de acreditar. O Egito é considerado uma grande civilização que se preocupou com a documentação e perpetuação de cada evento marcante em sua história nacional. Acredito que o “novo rei” sabia sim da existência de José, e conhecia muito bem o papel que ele desempenhou na salvação da economia egípcia.

 

O rei não era novo, mas suas intenções renovaram-se. Ao ver o crescimento do Povo de Israel em terras egípcias, o velho rei transformou-se: o governante que conhecia José e sabia de tudo o que havia acontecido no passado, passou a não mais reconhecê-lo. No momento que assim interessou, o governante tornou-se um “novo rei” e ignorou tudo o que aquele descendente da casa de Israel havia feito para salvar a terra do Egito.

 

Ao ignorar nosso passado, o Faraó tentou nos condenar a ser sempre uma família. Quando deixou de reconhecer os feitos de José, o ditador egípcio queria nos impedir de ter um passado em comum, para que nunca nos transformássemos em um povo.

 

Afinal de contas, povo é um conjunto de famílias unidas por uma história comum e entrelaçadas pelos mesmos objetivos.

 

Que saibamos vencer o Faraó e passar de Bereshít para Shemót. Que possamos nos comportar como um povo, como uma comunidade e não apenas como um emaranhado de famílias.

 

Shabat Shalom.

Rabino Michel Schlesinger