A profecia sempre foi reservada a poucos. Nem todos têm a capacidade de ver além da realidade que nos é apresentada, ou mais, de reconhecer que o que vimos é algo sério que vale a pena passar adiante.

 

Também é preciso remarcar que os profetas, na sua imensa maioria, recebiam mensagens divinas de alertar o povo e tentar reconduzir, através das palavras, as ações das pessoas a um bom caminho. Tarefa nada fácil. Não é a toa que muitos deles resistiram ao “chamado”.

 

Mas o que fazemos quando essas pessoas aparecem e começam a dizer o que fazer ou não fazer para melhorarmos e corrigirmos nosso caminho. Quantos de nós acreditaríamos e quantos de nós chamaríamos um hospício? Afinal, a era da profecia já terminou e recebê-la hoje em dia é sinal de loucura.

 

A Torá revela a preocupação diversas vezes em relação ao falso profeta. Segundo Maimônides, para verificarmos se um profeta é verdadeiro ou não deveríamos esperar para ver se suas palavras se concretizam. Mas nem isso é tão simples assim. Se a previsão era de algo ruim acontecer, Deus poderia ter mudado de ideia baseado no arrependimento das pessoas. Porém se a previsão foi boa e não acontecer, teríamos encontrado um falso profeta.

 

O livro de Devarím está repleto de recomendações de cuidados de não esquecer Deus, inclinando-se aos deuses dos outros povos. Portanto não é de se estranhar que a parashá traga esse ponto como a questão grave de um futuro profeta. Moshé antevê que virão profetas, a atenção está em suas mensagens.

 

Aquele profeta que pedir que o povo siga os outros deuses não deve ser levado em conta, mesmo que ele já tenha provado ser um verdadeiro. Não só isso, é um teste divino. Testando para saber se amamos a Deus com todo nosso coração e com toda nossa alma.

 

O futuro deste profeta não é muito alentador, já que recebe uma sentença de morte. Levantando nossa suspeita em relação ao “teste divino”. Afinal de contas seria muita crueldade fazer com que uma pessoa se prove profeta, receba uma mensagem “distorcida” de Deus e tenha como consequência a pena de morte.

 

Nesse impasse, o famoso Rabi Akiva propõe que a indicação de seguir outros deuses só acontece quando o próprio profeta partiu para o caminho errado.

 

O teste, portanto, não é especificamente enviado por Deus, mas Deus se aproveita da situação para avaliar o coração de cada um perante o dilema. Isso alivia a tensão do medo de ser profeta. Hoje esse medo é reavivado por uma sociedade cega, e surda, que não consegue receber mais essas mensagens, logo chamando de loucos aqueles que têm uma experiência mais mística.

 

 Permitamo-nos ver! Abramos nossos olhos! Sejamos o canal da mensagem divina.

 

Shabat Shalom
Rabina Fernanda Tomchinsky-Galanternik.