Com essa frase, tirada de um adesivo de carro, começamos a prédica do último Shabat. Mostramos que, embora ninguém aceite a representação infantil de Deus como um velhinho de barba branca, muitas vezes parece que nos comportamos com se fosse assim. No mínimo porque tampouco aceitamos imaginá-lo como uma mulher negra.
 
O teólogo Mordechay Kaplan disse que a imagem que temos de Deus, acreditando ou não nele, diz muito a respeito de nós e, por isso, é importante. O modo como nos relacionamos com ela, não menos. Para ele, Deus era a ideia dos valores que temos; para Buber, o encontro; para Levinas, o comprometimento; para Heschel, o rosto do outro; e para Green é a mágica que percebemos em tudo.
 
Na parashá da semana, aparecem as festas da Torá, Pêssach, Shavuót, Sucót, Rosh haShaná e Iom Kipur, além de Rosh Chódesh e do Shabat,  sem ainda a maioria das tradições que cumprimos nos últimos dois mil anos, mas com o detalhe das oferendas de animais, vegetais e farinhas regulamentadas na época.
 
Cabe perguntar: qual o sentido de oferecer presentes a Deus? Poderia ele ou ela precisar de algo? Querer algo? Faltar algo? Almejar algo? E isso seria justamente o que nós temos? O que consideramos seu presente para nós? Poderíamos dar o que nos foi dado? Alguém aceitaria um presente assim?
 
E o louvor? Deus precisaria de reconhecimentos, como uma criança?
 
Nossa proposta liberal é que os rituais são para os humanos. Todos. A reza também, que serviria para refletir nas nossas virtudes e defeitos diante do que atribuímos a Deus e valorizar o que agradecemos ou pedimos.
 
No caso das oferendas, trata-se, sim, de dar o recebido e o conquistado mostrando disposição a se desapegar. Dar o que sustentamos como próprio nos brinda com uma perspectiva elevada de quem reconhece que seu passo pelo mundo é pequeno, que o que consegue é momentâneo e poderia ter uma função maior do que o mero possuir, conquistar ou ganhar. Tudo que passa por nossas mãos poderia ser uma oportunidade de prova para ver como somos com o que temos e com o que carecemos e o que fazemos a partir de nossos pertences.
 
Ceder, renunciar, doar, brindar, são gestos que nos levam além de nosso lado animal e instintivo. Isso, nossa renúncia, a entrega de nós mesmos, nosso transcender – Deus não teria a não ser por nós. Seja qual for sua forma e essência.
 
 

Shabat Shalom.
Rabino Ruben Sternschein