Será que estamos preparados para viver a liberdade? Será que somos capazes de enfrentar as dificuldades que encontramos justamente por sermos livres?

A ausência de liberdade traz consigo a comodidade, o conforto. Se sou escravo não preciso tomar grandes decisões. Todas as escolhas significativas são feitas por meus patrões-escravizadores.

Seria muito mais fácil visitar um único médico e acreditar no seu diagnóstico, contudo a liberdade nos “obrigada” a escutar diversas opiniões e escolher. Seria muito mais simples navegar pela internet se houvesse apenas uma página sobre cada assunto. Na prática, o internauta precisa visitar dezenas de páginas, filtrar o material encontrado e usar a sua liberdade para selecionar aquilo que quer utilizar. Se apenas um filme bom ficasse em cartaz, decidiríamos mais rápido o programa de sábado à noite. No entanto, exercitamos nossas liberdades ao lermos dezenas de sinopses e escolhermos a película a ser assistida.

O mesmo ocorre em relação ao Judaísmo. Seria muito cômodo se pudéssemos ouvir uma única opinião de um único rabino, pertencente a uma única linha religiosa. E, no entanto, são várias as correntes do Judaísmo. Rabinos de uma mesma linha têm opiniões diferentes e finalmente o mesmo rabino, muitas vezes, nos dará mais de uma opinião sobre determinado assunto.

Estamos na semana de Pêssach, a festa da nossa libertação (zman cheruteinu). Embora seja muito difícil viver de maneira livre, o Judaísmo acredita que não existe outra possibilidade. Deus criou os homens e as mulheres para serem livres. O que nos difere dos demais animais é justamente nossa liberdade de escolher. Qualquer forma de cerceamento das liberdades do homem é anti- judaica. É terminantemente proibida pela nossa Torá.

A liberdade faz parte da própria essência do Judaísmo. O Povo Judeu passa a existir somente depois da saída do Egito. Enquanto éramos escravos do Faraó, não podíamos nos considerar um povo. Pertencer a algo implica, antes de mais nada, na liberdade para escolher pertencer.

O Judaísmo liberal, linha religiosa da nossa CIP, acredita que a liberdade é essencial para a prática de um Judaísmo autêntico e desafiador. Nós, rabinos, não devemos ditar as normas, mas indicar todas as opções. Quem abre qualquer página do Talmud percebe que não existe uma única resposta para uma pergunta judaica. O Judaísmo responde de diversas maneiras diferentes uma mesma pergunta e cabe a cada um ter a liberdade de escolher a resposta que mais lhe convence. E para isto, faz-se necessário o estudo aprofundado de todas as opções.

Poder escolher é muitas vezes mais complicado do que receber respostas prontas. Contudo, acreditamos que a liberdade é o único caminho para a prática de um Judaísmo pensante. Cada judeu deve conhecer profundamente suas tradições, lendas, leis e costumes para que possa exercer com plenitude sua liberdade de escolha. Aquele que escolhe depois de estudar as nossas fontes toma uma decisão autenticamente judaica, mesmo que esta decisão seja diferente daquela tomada por outro judeu.

Que vocês possam vivenciar a liberdade neste Pêssach e sempre.

Chag Samêach e Shabat Shalom!

 

 

Michel Schlesinger